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Prevenção de câncer. Quais doenças são preveníveis e que exames eu devo fazer.

Câncer é uma doença cada vez mais frequente no mundo, hoje já é a primeira causa de mortes, ultrapassando as doenças cardiovasculares. Como eu discuti numa postagem anterior, esse aumento no número de novos casos de câncer é, em grande parte, relacionado ao aumento da expectativa de vida e envelhecimento da população (clique aqui para ver esse post).

Médica avalia um exame de mamografia, capaz de detectar o câncer de mama em estágios precoces.
Médica avalia um exame de mamografia, capaz de detectar o câncer de mama em estágios precoces.

Para alguns tipos de câncer existem exames que podem ser feitos para detectar a doença precocemente, são os chamados exames de rastreamento. Popularmente costuma-se chamar esses exames de “preventivos de câncer”, o que não é o melhor termo, visto que alguns destes exames não previnem o aparecimento da doença, mas detectam quando ela está pequena e a chance de cura é maior.

Veja abaixo os exames recomendados para a detecção precoce do câncer de acordo com um painel internacional de especialistas (clique aqui para ver o original em inglês). Atenção pois estas recomendações são feitas para pessoas de risco normal, caso hajam casos de câncer na família as recomendações podem ser diferentes das listadas abaixo.

Câncer de mama

O rastreamento para câncer tornou-se popular depois desenvolvimento do exame de mamografia. Este exame é capaz de detectar cânceres de mama em estágio inicial e reduziu o número de mortes por esta doença em diversos países onde foi implantado de maneira organizada e oferecido a todas as mulheres.

Recomenda-se iniciar a mamografia em idades entre 40 e 50 anos e o exame deve ser repetido anualmente até pelo menos os 69 anos.

Atenção! O autoexame da mama não é recomendado para detectar o câncer de mama, ele tem baixa eficácia em detectar as doenças quando estão pequenas. Este exame não aumenta a chance de cura do câncer de mama. A mamografia consegue detectar o câncer quando ele está muito menor do que quando ele é identificado pelo autoexame.

Clique aqui para ver um post detalhado sobre mamografia.

Câncer de colo uterino

O câncer de colo uterino é uma dos cânceres mais frequentes entre as mulheres no Brasil e está relacionado à infecção pelo vírus HPV. Com o desenvolvimento da vacina contra esse virus espera-se uma redução importante dos novos casos nos próximos anos (veja aqui um post sobre a vacinação contra o HPV).

Recomenda-se iniciar o rastreamento com o exame de Papanicolau (o raspado do colo do útero) aos 21 anos. Este deve ser repetido em intervalos de 1 a 3 anos. Aos 30 anos, caso não haja alterações importantes pode-se aumentar o intervalo entre os exames. Alguns especialistas sugerem que se faça a pesquisa para detectar o HPV nesta faixa etária, adaptando o intervalo dos exames a partir deste resultado. Os rastreamento deve ser feitos até os 65 anos pelo menos.

O exame de papanicolau pode prevenir o aparecimento do câncer do colo de útero, caso sejam detectadas lesões pré-malignas, estas podem ser retiradas, antes que se tornem um câncer invasivo.

Câncer de cólon

Este é o câncer mais comum do aparelho digestivo. Existem algumas opções para o rastreamento do câncer de cólon.

A partir dos 50 anos recomenda-se um exame de colonoscopia a cada 10 anos. Neste exame, caso se encontre pólipos no intestino (as lesões precursoras de câncer), é possível ser feita sua remoção. Detectando-se precocemente estas lesões, que se tornariam câncer um dia, pode-se evitar o aparecimento de câncer no futuro.

Uma segunda opção, para pessoas que não querem fazer colonoscopia inicialmente, é verificar anualmente a presença de sangue oculto nas fezes. Caso este exame seja positivo recomenda-se a colonoscopia.

Veja aqui uma matéria sobre o rastreamento de câncer de cólon.

Câncer de pulmão

Câncer de pulmão é a doença que mais causa mortes entre os cânceres. Seu maior fator de risco é o fumo, quando maior o número de cigarros fumados por dia e o tempo em que se fumou maior é a chance de se desenvolver câncer de pulmão.

Existe apenas recomendação de se rastrear as pessoas que são grandes tabagistas, que fumaram muito e por longos períodos, pelo menos 30 maços-ano (veja aqui um post detalhado sobre este assunto). Para estas pessoas está recomendada a tomografia helicoidal com baixas doses de radiação. O exame deve ser feito anualmente ou a cada dois anos, de acordo com os resultados do primeiro exame, e deve ser continuado até pelo menos 74 anos.

Câncer de próstata

Este é talvez um dos tópicos de maior controvérsia em rastreamento de câncer. Câncer de próstata é uma doença com alta heterogeneidade, existem subtipos muito agressivos, que se espalham rapidamente pelo corpo, e outros subtipos pouco agressivos, que não causarão nenhum problema para os homens. Infelizmente hoje não há nenhum exame que possa diferenciar com precisão estes dois tipos de doença.

Recomenda-se discutir detalhadamente os riscos e benefícios de rastrear câncer de próstata, levando-se também em consideração a história de câncer de próstata na família e possíveis doenças da próstata anteriores (veja aqui com mais detalhes). A decisão de se fazer ou não o rastreamento do câncer de próstata deve ser partilhada entre médico e paciente.

Para os homens que optem por fazer o rastreamento este deve ser iniciado em torno dos 45 anos e feito com a dosagem de PSA (uma substância produzida pela próstata) no sangue e eventualmente toque retal, caso haja aumento do PSA ou maior suspeição de câncer. Caso ambos sejam normais apenas o exame de PSA deve ser repetido anualmente ou a cada 2 anos. O rastreamento deve ser feito até em torno dos 70 anos.

Todas as recomendações anteriores são feitas para pessoas com o risco normal de câncer. Para saber ao certo quais delas se adaptam a cada pessoa é necessária uma consulta com um oncologista ou clínico geral, que avaliará o risco individual de cada pessoa e fará adaptações de acordo com eles.

Aprovado novo método para detectar o câncer de pulmão em estágio inicial.

Câncer de pulmão é o tipo de câncer que mais causas mortes no mundo, tanto entre homens quanto em mulheres. O principal causador de câncer de pulmão é o cigarro, estima-se que 90% dos casos de câncer de pulmão são causados pelo tabaco. Pessoas não fumantes que convivem com fumantes também têm risco aumentado de desenvolvimento de câncer de pulmão, em torno de 30% maior que pessoas que não convivem com fumantes.

Recentemente um estudo desenvolvido nos Estados Unidos (The National Lung Screening Trial) avaliou o uso de tomografia helicoidal de baixa dose para a detecção precoce de câncer de pulmão em pessoas com alta carga tabágica. A carga tabágica é uma quantificação de quanto a pessoa fumou na vida mensurado em maços-ano. Por exemplo, uma pessoa que fumou 1 maço de cigarros por dia por 15 anos tem carga tabágica de 15 maços-ano, se ela fumou por 20 anos a carga tabágica é de 20 maços-ano.

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Máquina de tomografia computadorizada

O estudo avaliou o uso de tomografia helicoidal de baixa dose ou radiografia de tórax em pessoas que tenham fumado pelo menos 30 maços-ano, os “grande tabagistas”. Nesta população a tomografia foi capaz de detectar diversas alterações e novos nódulos no pulmão enquanto a radiografia não detectou tantos. Quando estas alterações eram suspeitas de câncer os nódulos eram avaliados por biópsia por agulha (quando se tira um fragmento do tumor apenas) e, se o câncer fosse identificado, o paciente era operado e o nódulo totalmente retirado.

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Imagem do pulmão produzida pela tomografia identificando um pequeno nódulo que era um câncer de pulmão em estágio inicial

Comparando os dois métodos houve uma redução de 20% de mortalidade por câncer de pulmão no grupo que fez o rastreamento com tomografia. Este resultado é altamente significativo, visto que havia grande possibilidade de que essas pessoas viessem a desenvolver câncer de pulmão disseminado no futuro e consequentemente vir a falecer desta doença.

Os Estados Unidos estão começando a aprovar e utilizar esse exame no dia a dia para o rastreamento precoce do câncer de pulmão em pacientes com alta carga tabágica. Este é mais um avanço no tratamento e controle do câncer de pulmão.

Lições que aprendi com o Doutorado – Parcerias, consistência e persistência. Projetos para o futuro.

Normalmente eu escrevo sobre tópicos relacionados a oncologia no meu blog. Tento usar esse espaço para aproximar as informações técnicas e médicas da área da oncologia das pessoas que precisem delas, ou que se interessem pelo tópico. Eventualmente escrevo sobre minhas opiniões, impressões ou histórias que eu vivi na oncologia.

Hoje resolvi escrever sobre algo mais pessoal, meus projetos para o futuro, a defesa do meu doutorado e a imensa ajuda e colaborações que eu tive de várias pessoas para poder tornar isso possível.

Em fevereiro de 2015 aconteceu a defesa final do meu doutorado no Hôpital Erasme, ligado a Université Libre de Bruxelles. Eu tive 30 minutos para expor o trabalho feito ao longo dos 3 anos que passei no Institut Jules Bordet, também em Bruxelas. Depois disso, uma arguição da banca julgadora e finalmente uma apresentação dos meus projetos de pesquisa futuros, até a aprovação final e obtenção do título de Doctor of Philosophy (PhD) em medicina.

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É interessante saber que por trás de cada informação contida nos slides havia semanas ou até mesmo meses de trabalho. Tentativa, erro, sucesso, erro, nova tentativa. Algumas vezes tive trabalhos aprovados por revistas na primeira tentativa, outras eu tive que ralar muito para publicar. Fui falar com muitas pessoas, muitos e-mails, reuniões, pedi muitas opiniões, tive a ajuda de muita gente.

Aprendi muito nesses anos, não somente tecnicamente mas também a escutar, trabalhar em conjunto, liderar quando tinha que ser guia e apoiar quando era liderado por colegas. Admitir as falhas e bater o pé quando estava certo. Tive que recomeçar do zero inúmeras vezes, só de propostas de tese eu fiz cinco. Algumas propostas de estudo decolaram rápido, outras ficaram na gaveta até hoje.

“Pesquisa é ingrata”, a gente escuta isso o tempo todo quando está nessa área. Na realidade, acho que pesquisa é como uma extensão do dia a dia ou da medicina. Vale a consistência e persistência para atingir os objetivos, e eu sou muito agradecido aos meus colegas de Bruxelas pelo apoio que tive nesses anos do doutorado.

De volta ao Brasil, o meu objetivo é continuar com esse trabalho, manter as parcerias na Europa e criar novas aqui. Pesquisar para desenvolver alternativas de tratamento para pacientes com câncer e contribuir para a real universalização do acesso à saúde e a uma medicina humanizada. O objetivo final é trabalhar por um sistema de saúde em que as pessoas possam ter verdadeiramente acesso aos meios de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficiente e moderno.

Mesmo sendo um objetivo complexo que envolve diversos parceiros, incluído reguladores do sistema de saúde, há diversas pessoas motivadas. Assim como o doutorado, esse também é um trabalho coletivo, e muito mais complicado. Para que isso se torne realidade temos que começar em algum momento e eu estou apostando na consistência, na persistência, na parceria e na colaboração para fazer esse projeto voar.

O objetivo compensa!

Como o Sol vê a sua pele – Veja as incríveis imagens reveladas pela câmera ultravioleta

Uma das recomendações mais feitas por dermatologistas e oncologistas é a proteção da pele contra os raios solares.

Os efeitos da radiação UV demoram anos para serem percebidos a olho nu, mas uma câmera com filtro UV é capaz de detectar essas alterações muito antes que o olho humano.

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No vídeo abaixo, veja as incríveis imagens dos efeitos dos raios UV na pele, principalmente em pessoas com pele mais clara. A boa notícia, também mostrada no vídeo, é que o protetor solar oferece uma sólida e eficiente proteção contra a radiação UV.

Use protetor solar e evite os horários de maior intensidade de Sol nesse verão, entre 10h e 15h.

Boas férias e boa praia!

Ative a legenda em português no canto inferior direito do video.